A Dimensão do Design no século XXI — Introdução

Joana Cerejo
4 min readApr 19, 2019

Reflexão sobre a evolução do pensamento de Design

Design é a forma mais difusa da atividade humana.
Mihai Nadin

Design é uma fabricação humana. Não podemos compreender a existência humana sem design. Quase tudo ao nosso redor é projetado, o que nos torna, em parte, um produto do design (Fry 2015). Tudo o que projetamos está a nos projetar em retorno (Silva, 2017).

História de Design, é uma história riquíssima, completa de artistas e estilos deslumbrantes que moldaram o mundo ao longo das décadas, erguendo o Design ao estatuto maior que hoje lhe concedemos. Mas esta história não é apenas uma história de estilos e valores visuais ou estéticos. Apesar de o Design ainda ser fortemente compreendido por estes valores, o Design é muito mais do que isso. Falar em Design, é falar duma história de pensamento, muito mais do que uma história de considerações estéticas. Partindo desta permissa, este post tem como finalidade moldar e ampliar o significado ubíquo do design e ir além do seu actual alcance histórico.

O estudo do design sempre esteve ligado a outras áreas do conhecimento como a psicologia, a teoria da arte, a comunicação, ciência da cognição, entre outras. No entanto, o design possui um conhecimento e carácter próprio, que se desenvolveu através da sua história, demarcando o seu próprio cunho ao longo dos tempos. Problemas de design requerem vários domínios de conhecimento e uma ampla gama de habilidades. Para Grecu e Brown (1998), um problema de design requer conhecimento de vários domínios e usa uma ampla gama de representações.

Este post pretende fazer com que o Design seja compreendido pelo seu valor intrínseco e não apenas pelos seus valores estéticos e funcionais. Isto porque, através de propósitos criativos, o Design é indiscutivelmente uma ferramenta importante para a promoção do crescimento quer tecnológico, social ou económico. Pois pela sua ubiquidade, hoje, o Design é transversal a qualquer industrial, área ou sector. É neste contexto que o paradigma de Design oferece emocionantes e desafiadores estímulos para as empresas e projectos, contudo, há ainda grandes barreiras à proclamação do design como método fértil para a sinergia interdisciplinares. Por conseguinte, cabe-nos a nós, designers, estabelecer e compartilhar uma estruturada compreensão do significado do pensamento e acção do design. Assim estaremos a preparar caminho para uma coesa sustentação do seu significado como forma de pensamento. Logo, o bem-estar futuro da humanidade e ambientes dos quais dependemos poderão crescer sustentavelmente. Nós como seres humanos, hoje encontramo-nos demograficamente, geopoliticamente, biofisicamente, ambientalmente e psicossocialmente, num ponto onde o futuro com um amanhã só poderá ser alcançado explorando e moldando possíveis futuros através do design. Mas para que esta dimensão do design seja reconhecida e valorizada, o escopo da pesquisa histórica em design necessita de se tornar significativamente mais amplo, superando uma vez por todas, as barreiras “académicas” que possam vir a estar a limitar a interdisciplinaridade dos campos de actividade. Hoje, o Design desconhece obstáculos disciplinares, logo design é engenharia, é ciência, é arte, é filosofia, é gestão, é acima de tudo ubíquo (Fallman, 2008). Design converge para um campo efetivo de inovação e criatividade multidimensional. A noção de que o designer é uma espécie de génio/artista movido pelas suas inspirações “divinas” está mais do que ultrapassado. Design, quer pelos seus processos ou metodologias, é algo indubitavelmente racional, estruturado, objectivo e acima de tudo pragmático. Tal como outros campos probos, como a ciência, a filosofia, a gestão, e afins.

Ao longo das últimas décadas, o design mudou-se de um campo que se concentra principalmente nas qualidades estéticas e formais para projectar acções, ambientes, experiências e estratégias. No entanto, é interessante notar como a literatura não acompanhou esta transformação. Facilmente encontramos livros sobre a História do Design Gráfico, ou do Design de Moda, ou do Design Industrial, etc. A oferta é vasta. Porém, é muito difícil encontrar autores que abordem e analisaram o Design como um todo, como um conceito universal que é composto por várias disciplinas, metodologias e processos. A literatura recorrente falha em mencionando o processo criativo por trás da sua história.

Por todos estes desafios, é-nos pertinente reflectir sobre a total dimensão do Design, e isso torna-se evidente quando alguém, por exemplo em Portugal, precisa de explicar o que é Design.

Hoje no contexto Português, o impacto que o Design teve, têm ou terá, na sua magnitude, não foi ainda adequadamente compreendido dentro ou fora da sua educação, prática, história e teorização.

Por conseguinte, estea série de textos têm como objectivo suscitar uma discussão em torno do Design quer no seu contexto de inovação, histórico, social e económico. Esta investigação irá suportar e sustentar a ubiquidade do Design. Design é muito mais do que uma disciplina é um modo de pensamento, que através do seu pensamento abductivo é capaz de criar hipóteses tão válidas quantas as do actual modelo de pensamento científico. Em geral, o objectivo é bem directo: expandir a forma como o design é compreendido e visto.

Referências

Fry, Tony. 2015. “Whither Design / Whether History.” In Design and the Question of History, 1st ed., 320. Bloomsbury Academic.

Jason Silva. 2017. “What Is Technological Singularity? Origins: The Journey of Humankind.” National Geographic.

Grecu, DL, and DC Brown. 1998. “Dimensions of Machine Learning in Design.” Artificial Intelligence for Engineering Design, Analysis and Manufacturing, no. April: 117–22. http://www.cs.wpi.edu/~dgrecu,%0Ahttp://www.wpi.edu/~dcb%0Ahttp://journals.cambridge.org

Fallman, D. (2008). The Interaction Design Research Triangle of Design Practice, Design Studies, and Design Exploration. Design Issues, 24(3), 4–18.

--

--